sexta-feira, 24 de outubro de 2008

JACÓ - Aquele que segue nos calcanhares de alguém; suplantador.

(Gn 25:26; Gn 27:36; Os 12:2-4). O segundo filho gémeo de Isaque e Rebeca. É provável que tenha nascido em Laai-roi quando o seu pai tinha 59 anos e Abraão 159. Tal como o seu pai, Jacó era de uma disposição gentil e calma e quando cresceu, seguiu a vida de pastor, enquanto o seu irmão se tornou num caçador empreendedor. Porém, o seu comportamento para com Esaú mostrou muito do seu egoísmo mesquinho e da sua astúcia (Gn 25:29-34).
Quando Isaque tinha cerca de 160 anos, Jacó e a sua mãe conspiraram para enganar o velho patriarca (Gn 27), tendo em vista transferir o direito à primogenitura para ele. O direito à primogenitura assegurava àquele que o possuísse:
1º) - uma posição superior na sua família (Gn 49:3)
2º) - uma porção dobrada da herança paterna (Dt 21:17);
3º) - o sacerdócio da família (Nm 8:17-19);
4ª) - a promessa da semente na qual todas as nações da terra seriam abençoadas (Gn 22:18).
Logo após ter adquirido a bênção do seu pai (Gn 27), Jacó consciencializou-se da sua culpa e, com medo da fúria de Esaú, seguiu a sugestão de Rebeca e foi enviado para Harã, que ficava a 640 Km ou mais dali, a fim de procurar uma mulher entre os seus primos, a família de Labão, o Sírio (Gn 28). Aí ele encontrou-se com Raquel (Gn 29). Mas Labão só consentiu que ele se casasse com a sua filha, depois que Jacó o servisse por sete anos. Para Jacó, aqueles anos “foram poucos dias, pelo muito que a amava”. Mas quando os sete anos acabaram, Labão enganou astuciosamente Jacó e deu-lhe a sua filha Leia. É provável que Jacó tivesse cumprido outros sete anos de serviço, antes de conseguir casar-se com a sua amada Raquel. A mágoa, a desgraça e as várias provações que se seguiram durante o resto da sua vida, na providência retributiva de Deus, foram como que uma consequência desta dupla união.
No fim dos quatorze anos, Jacó desejou voltar para junto dos seus pais mas, a rogo de Labão, ele ficou com ele por mais seis anos, cuidando dos seus rebanhos (Gn 31:41). Ele, então, juntou a sua família e possessões “a fim de ir ter com Isaque, o seu pai, que habitava na terra de Canaã”. Labão ficou zangado quando ouviu dizer que Jacó partira em viagem e perseguiu-o, alcançando-o em sete dias. O encontro foi doloroso. Após muitas recriminações e censuras dirigidas contra Jacó, Labão acabou por se acalmar e, tendo-se despedido das suas filhas, volta para casa, em Padã-Arã. Agora, toda a ligação dos Israelitas com a Mesopotâmea chega ao fim.
Logo depois da partida de Labão, Jacó encontra-se com um grupo de anjos, como se estes viessem cumprimentá-lo pelo seu regresso à Terra Prometida (Gn 32:1,2). Ele chamou àquele lugar Maanaim, i.e., “o acampamento duplo”, provavelmente o seu próprio acampamento e o dos anjos. A visão dos anjos era um duplicado daquela que ele tivera em Betel quando, vinte anos antes, o viajante cansado e solitário, a caminho de Padã-Arã, viu os anjos de Deus subindo e descendo pela escada que chegava ao céu (Gn 28:12).
Ele, então, ouve, com consternação, dizer que o seu irmão Esaú se aproximava com um bando de 400 homens para se encontrar com ele. Em grande agonia mental, ele prepara-se para o pior. Ele sente que agora deve depender somente de Deus e entrega-se a ele numa sincera oração. Envia, então, uma presente magnânimo a Esaú, “um presente para o meu senhor Esaú do teu servo Jacó”. A família de Jacó passa o rio Jaboque mas ele fica para trás, passando uma noite em comunhão com Deus. Enquanto assim ocupado, aparece-lhe um em forma de homem, que luta com ele. Nesta misteriosa luta, Jacó vence e como memorial, o seu nome é mudado para Israel (o que lutou com Deus); e ao lugar onde isto aconteceu, ele deu o nome de Peniel, “pois,” disse ele, “eu vi o Senhor face a face e a minha vida foi preservada” (Gn 32:25-31).
Após uma noite ansiosa, Jacó prosseguiu o seu caminho, hesitante enfraquecido pelo conflito, mas forte, por estar seguro do favor divino. Esaú encontrou-se, então, com ele. O seu espírito de vingança tinha-se acalmado e os dois irmãos encontraram-se como amigos e pelo resto das suas vidas mantiveram relações amigáveis. Após uma breve estadia em Sucote, Jacó continuou a sua viagem e armou as suas tendas perto de Siquém (Gn 38:18); mas com o tempo e sob a direcção divina, ele mudou-se para Betel, onde erigiu um altar a Deus (Gn 35:6,7) e onde Deus lhe apareceu, renovando com ele o concerto abraamico. Enquanto viajava de Betel para Efrata (o nome cananeu dado a Belém), Raquel morreu ao dar à luz o seu segundo filho - Benjamim (Gn 35:16-20), quatorze ou quinze anos após o nascimento de José. Ele, então chegou à antiga residência da sua família, em Manre, encontrando o seu pai Isaque moribundo. A completa reconciliação entre Jacó e Esaú é vista na sua união no enterro do patriarca (Gn 35:27-29).
Pouco tempo depois, Jacó sofre profundamente com a perda do seu filho José, por causa da inveja dos seus irmãos (Gn 37:33). Segue-se a história da fome e das sucessivas idas ao Egipto para comprar trigo (Gn 42), que levaram à descoberta do há muito perdido José e da ida do patriarca para o Egipto, com toda a sua casa, em número de setenta almas (Ex 1:5; Dt 10:22; At 7:14), a fim de habitarem na terra de Gosen. Aqui Jacó, “depois de ter navegado num agitado oceano, encontra finalmente um porto tranquilo, onde todas as melhores emoções da sua natureza foram gentilmente exercidas e grandemente dispensadas” (Gn 48). À medida que o fim dos seus dias se aproximava, ele reúne os seus filhos junto ao seu leito para poder abençoá-los. Ao dizer as suas últimas palavras, ele repete a história da morte de Raquel, embora se tivessem passado quarenta anos, tão ternamente como se tudo tivesse acontecido no dia anterior; e quando ele acabou “de dar os mandamentos a seus filhos, encolheu os seus pés na cama e expirou” (Gn 49:33). O seu corpo foi embalsamado, levado com grande pompa para a terra de Canaan e enterrado junto da sua mulher Leia na cova de Macpela, de acordo com o que ele ordenara. É provável que o seu corpo embalsamado ali permaneça até aos dias de hoje (Gn 50:1-13).
A história de Jacó é mencionada pelos profetas Oséias (Os 12:3,4,12) e Malaquias (Ml 1:2). Em Mq 1:5, o nome é um sinónimo poético de Israel, o reino das dez tribos. Existem, para além da menção ao seu nome juntamente com o dos outros patriarcas, distintas referências a incidentes da sua vida nas epistolas de Paulo (Rm 9:11-13; Hb 12:16; Hb 11:21). Faz-se ainda referência à sua visão em Betel, à sua posse da terra de Siquém em Jo 1:51; Jo 4:5,12; e à fome que o fez dirigir-se ao Egipto em At 7:12.

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